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abismo

O que leva alguém a dar cabo de sua vida? Por que algumas pessoas se deparam com o desespero de modo tão intenso que não lhes resta outra alternativa senão sucumbir a ele? Este é um assunto tão delicado que, por vezes, evitamos mencioná-lo. É um tema sempre velado, pois sua causa está envolta num mistério que não pode ser compreendido completamente. No entanto, é algo muito próximo a todos nós. Aliás, Brasília é a capital do suicídio. A Organização Mundial de Saúde registra que 30 milhões de pessoas tentam o suicídio a cada ano. Trata-se, portanto, de um assunto presente e recorrente.  

A palavra “suicídio” significa “sem esperança” e segundo o filósofo Jean Paul Sartre é a expressão diante de uma situação para a qual não existe saída.  O ser humano está trancado dentro de si, em conflito com o próprio eu. Não se pode fugir porque não há como se esquivar de si mesmo. Nessa situação o suicídio funciona como um mecanismo onde a pessoa se livra de si mesmo. No século XVIII, o escritor alemão Goethe escreveu Os sofrimentos do Jovem Werther, obra que deu início ao Romantismo como escola literária na Europa e também fez desencadear uma onda de suicídios entre os jovens daquela época, tamanha a profundidade da dor retratada em suas palavras.

Nem mesmo a Bíblia foi silente a esse assunto. Alguns protagonistas da história sacra cometeram suicídio. É possível destacar Saul (I Sm 31:4-6) e também Sansão (Jz 16:30-31). Dois homens cujas trajetórias os conduziram por um caminho de autodestruição. Além disso, podemos mencionar Aitofel (II Sm 17:23) e o famigerado Judas (Mt 27:3-5), personagens que se renderam a um forte ataque de consciência. Alguns defendem a idéia de que o suicídio exclui de modo irremediável a graça salvadora de Cristo, ou seja, cometer suicídio é estar condenado ao inferno. No entanto, essa não é a minha forma de compreender. Acredito firmemente que mesmo o suicida pode ser salvo. Afinal, assim como não há nada que possamos fazer para ganhar a salvação, da mesma forma não há nada que possamos fazer para perdê-la. A Escritura afirma categoricamente que “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5:20). O apóstolo Paulo afirma que : “pela graça sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós, é dom de Deus” (Ef. 2:8).

Seria muito leviano fazer um julgamento prévio e condenar um suicida. Apenas Deus, em sua infinita onisciência é capaz de perscrutar a alma humana. Há estágios tão avançados da depressão que o sujeito em questão simplesmente não tem forças para lutar contra o desejo de morte. Ninguém pode ser condenado por um ato isolado, uma atitude tomada em momento de profunda dor e desespero. Toda teologia reformada se fundamenta na graça de Deus. A misericórdia do Senhor não tem fim. Ele é compassivo, justo e misericordioso (Sl 116:5). A Bíblia é enfática em dizer que a salvação não é por obras (Ef. 2: 9). É um ato exclusivo da bondade e da graça de Deus concedida a pecadores. Sendo assim, não posso conquistar a salvação, nem mesmo perdê-la. O céu é uma dádiva concedida como fruto da graça de Deus. A carta de Paulo aos romanos atesta que nada pode nos separar do amor de Deus (Rm 8:38-39). E eu seguramente lhes afirmo que a graça de Deus triunfa sobre toda e qualquer tragédia.

Rev. Daniel Sampaio Mota