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O homem desconhece seu propósito e vaga por uma jornada desprovida de significado. Nascer, viver e morrer – essa é a trajetória de todos os mortais. A vida é um sopro e refletir sobre ela traz à tona a mediocridade humana frente ao tempo e a grandeza do universo.

O livro de Eclesiastes retrata o clamor de um velho sábio que mergulhou numa busca por respostas. Após viver uma vida recheada de prazeres, satisfações, grandes conquistas e realizações, o autor percebe que nada disso fazia sentido, pois não passavam de mera vaidade. Diante disso, ele inicia uma jornada para descortinar o verdadeiro sentido da vida. Rene Kivitz pontua que a leitura de suas páginas nos fazem lembrar os tratados filosóficos de grandes pensadores como Sartre, Camus, Kierkegaard e Nietzsche. Não é sem razão que Norbert Lohfink considera Eclesiastes “o mais claro ponto de encontro de Israel com a filosofia grega dentro da Bíblia”.

A palavra vaidade aparece no livro 35 vezes e pode ser empregada como inutilidade, futilidade ou ausência de sentido. Contudo, é importante salientar que essa palavra é utilizada de modo repetido, vaidade de vaidades. No hebraico não há o recurso do superlativo. Isso significa não que se pode dizer agitadíssimo ou belíssimo na língua hebraica. O recurso para a expressão do superlativo é a repetição: vaidade de vaidades. Desta forma, o livro enfatiza que o anseio e a busca desenfreada por dinheiro, trabalho, status e prestigio não passa de futilidade. O homem gasta sua vida naquilo que é trivial, busca coisas sem valor e luta para obter aquilo que não é nada.

A grande contribuição do livro gira em torno de não desperdiçarmos o tempo e a vida. Há uma tensão que perpassa todo o livro – o trivial versus o essencial. Por diversas vezes nós abrimos mão daquilo que é importante para dar atenção a questões secundárias.  A maior parte do nosso investimento está canalizado para assuntos irrelevantes. Gastamos nossos preciosos anos correndo atrás do vento. Ninguém no leito de morte lamenta por não ter passado mais tempo no escritório ou por não ter dedicado mais horas ao trabalho. O grande arrependimento que ronda os moribundos é ter desperdiçado a vida em assuntos supérfluos. Em busca de uma vida cada vez mais complexa, esquecemo-nos que a felicidade mora em coisas simples, que não podem ser compradas, mas nos são ofertadas gratuitamente. O meu versículo favorito do livro de Eclesiastes, sintetiza bem essa verdade: “Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de tua vida fugaz, os quais Deus te deu debaixo do sol; porque esta é a tua porção nesta vida pelo trabalho com que te afadigaste debaixo do sol” (Ec. 9:9). Então, se desejamos alcançar o sentido da vida, ele não é tão difícil de encontrar. Estamos apenas procurando no lugar errado.

Rev. Daniel Sampaio e Emmanuelle